quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um mar para cuidar e preservar - "Santos 463 anos"

Fotos: Marcelino Silva / Divulgação / Site Canais de Santos




Graças à genialidade e capacidade de planejamento urbano do engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, a Cidade ocupa posição privilegiada na área de saneamento básico no País, mas a expansão do Município não impediu a ocorrência de problemas no sistema sanitário da Cidade, que ainda carece de melhorias

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Por Marcelino Silva

O sistema de saneamento básico de Santos está dividido em três grandes ciclos. O primeiro deles foi impulsionado por Francisco Saturnino Rodrigues de Brito. Nascido em 1864, na Fazenda Velha, no município de Campos (RJ), o engenheiro foi responsável em projetar a higiene sanitária de vários estados e cidades brasileiras. Em 1903, o Governo de São Paulo organizou a Comissão de Saneamento de Santos, dirigida até 1905 pelo engenheiro José Pereira Rebouças, quando Saturnino de Brito assumiu o posto.

De 1890 a 1904, perto de 26 mil pessoas morreram por epidemias de febre amarela, febre tifóide, malária, varíola e peste bubônica. A tragédia atingiu mais que a metade da população santista, que era de 45 mil habitantes. As tripulações dos navios não desembarcavam na Cidade, tamanho era o medo de contrair doenças. O cais esteve perto de ser fechado e ficou conhecido como o Porto Maldito no início do século 20. A partir de 1905, o sanitarista realizou minucioso estudo sobre as condições de higiene em Santos e elaborou um projeto para solucionar os problemas de drenagem e coleta de esgotos.

Em 25 de abril de 1912 foi inaugurado o sistema de esgotos e de águas pluviais de Santos, considerado o mais avançado do Brasil na época. Ele era composto por 66 quilômetros de coletores e 15 de emissários, 692 poços de visitas, 10 estações elevatórias, uma usina terminal e uma ponte suspensa, a Ponte Pensil. Ela foi concluída em 1914 para a travessia da tubulação que levava o esgoto de Santos e São Vicente até Praia Grande, onde era disposto ao mar.

Pioneirismo – Inédito no País, o projeto obteve repercussão internacional e fez com que Saturnino fosse proclamado o Patrono da Engenharia Sanitária do Brasil. O engenheiro também construiu o principal sistema de drenagem superficial, com quatro galerias e 9,5 quilômetros de canais (1 ao 6) que escoavam as águas dos bairros santistas. O Canal 7 foi o único que não fez parte de suas obras. O trabalho livrou a Cidade das epidemias e a colocou em definitivo na rota do comércio mundial, além de colaborar com a famosa qualidade de vida existente até hoje.


Antes mesmo de serem habitadas, regiões próximas às praias (Zona Leste) já tinham seus projetos de urbanização e esgotamento sanitário colocados no papel pelo engenheiro. “Coisas foram modificadas, mas muitos sistemas ainda estão em uso. Atualmente, projetamos obras sanitárias com 30 anos de capacidade. Saturnino conseguiu fazer algo com mais de 100 anos de eficiência. Era um homem que pensava à frente do seu tempo”, diz Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, sanitarista e superintendente regional da Sabesp.

Numa época onde não se falava em preservação do Meio Ambiente, Saturnino de Brito deixou grande legado ambiental. Sua vasta obra, compilada em 23 volumes, e seus processos técnicos de saneamento foram adotados por engenheiros sanitaristas da França, Inglaterra e Estados Unidos. Ele faleceu em Pelotas (RS), em 10 de março de 1929, quando inspecionava os serviços de construção de uma nova rede de águas e esgotos no município gaúcho.

Abastecimento – A Cidade não possui manancial próprio para captação de água. A ETA 1 Pilões (Estação de Tratamento de Água) de Cubatão é a mais antiga e foi a primeira a servir os municípios vizinhos. Ela foi construída durante a concessão da empresa canadense The City of Santos Improv. Co. e conseguia produzir até 600 litros por segundo de água tratada. Até 1930, abasteceu Santos sem nenhuma alteração, mas as chuvas levavam terra e vegetação da Serra do Mar, alterando a qualidade da água. Era preciso cortar o abastecimento por causa das constantes manutenções.

Ribeiro explica que a partir da década de 60, obras importantes marcaram o segundo ciclo do saneamento na Cidade. “Em 1963 entra em operação a ETA 3, também em Cubatão, com capacidade de produzir mil litros por segundo. Em 1969, sua capacidade foi duplicada com a construção de outra etapa do projeto. Após reforma geral em 1985, a capacidade da estação foi para 4500 litros por segundo. Todo este sistema oferece água tratada em 100% dos lares santistas”.

Emissário – Depois do legado deixado por Saturnino de Brito, o crescimento populacional, o turismo e a projeção das demandas futuras obrigaram novas obras de saneamento básico na segunda metade do século 20. Em 1973 foi fundada a Sabesp. Junto com ela, surgiu o Sistema Integrado de Esgotamento Sanitário de Santos e São Vicente. Ele é composto por quilômetros de interceptor oceânico sob as praias de ambas as cidades, redes coletoras, estações elevatórias, ligações domiciliares e emissários de recalque.

Essa estrutura leva os dejetos até a Estação de Pré-Condicionamento de Esgotos (EPC), no José Menino. Nela, os efluentes são tratados com a peneiração dos resíduos sólidos, retirada de areia e recebem adição de cloro. O destino é o Emissário Submarino. Inaugurado em 1978, ele tem capacidade de vazão para 3500 litros por segundo de esgoto sanitário. Com 1,75 metros de diâmetro interno e quatro quilômetros de extensão no sentido norte-sul, sua função é lançar o material na Baía de Santos, nas proximidades de Itaipu.

Este sistema é responsável por coletar, tratar e dispor 98% dos efluentes domésticos dos santistas. Os 2% de esgotos não tratados são de áreas não urbanizadas nos morros, na Zona Noroeste e na Área Continental. “A poluição das praias está relacionada com essas regiões. Quando forem regularizadas, teremos 100% do saneamento básico concluído em Santos. O emissário desafogou o sistema sanitário da Ilha de São Vicente e iniciou o processo de recuperação da balneabilidade. Hoje, podemos dizer que Santos é um dos municípios mais bem saneados do País”, defende o sanitarista.

Onda Limpa – O superintendente considera o terceiro ciclo sanitário da região. Para ele, a preservação do Meio Ambiente substituiu o padrão sanitário neste projeto. “Hoje, a companhia está focada em soluções ambientais. É por isso que vamos investir R$ 1,23 bilhão na melhoria do saneamento básico e da qualidade de vida da Baixada Santista. Serão 82 praias beneficiadas, distribuída em 162 quilômetros de extensão. A população atendida pode chegar a três milhões de pessoas na temporada de verão”.

Em Santos, as intervenções do Onda Limpa vão até 2010. As principais são a ampliação da capacidade da EPC, que passará a tratar 5300 litros por segundo de esgoto, a implantação de um novo Interceptor Rebouças com 2200 metros de extensão, na Avenida Francisco Glicério, e o prolongamento do trecho aquático do Emissário Submarino. Ele ganhará mais 400 metros, passando a ter 4,4 quilômetros de extensão. Também receberá novos difusores na boca da tubulação. Eles são como chaminés em formato de grelhas e são responsáveis em expelir e dispersar o esgoto para a superfície do oceano.

Segundo Ribeiro, o IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológicas da USP) revisou todo o projeto do emissário e aplicou tecnologia aos novos difusores e à extensão da tubulação. “O projeto está aferido pelos órgãos ambientais e a Sabesp cumpri as exigências no estudo das marés e da vida marinha. Hoje, o emissário está isento de qualquer influência na poluição das praias. Depois de concluídas, as obras serão monitoradas e vão garantir saneamento ambiental por mais 30 anos em Santos. Isso é uma exigência do investidor, o JBIC (Japan Bank for International Cooperation)”, garante o superintendente.

Difícil, mas não IMPOSSÍVEL



“A qualidade das praias de Santos é grave e a solução do problema não será encontrada em curto prazo. É cada vez mais difícil reverter o quadro, mas é possível com tempo, educação e investimentos”. As declarações são do professor André Luiz Belém. Mestre em Oceanografia Biológica e com pós-doutorado em Hidrometria Estuarina, o oceanógrafo é considerado um dos principais especialistas em estuários no Brasil. Para ele, a sujeira é provocada por diferentes fontes poluidoras, o que dificulta a descontaminação da orla.

Por mais de cinco anos, sua equipe acompanhou a situação do Canal do Estuário, das praias e da Baía de Santos. Após a releitura dos relatórios da Cetesb, o trabalho foi focado longe das estações de amostragem da Companhia. O estudo analisou a água e os sedimentos do fundo do mar, retirados em diferentes pontos de coleta. Também foram considerados fatores como toxinas, nutrientes, oxigênio e material orgânico. “Os índices de poluição estão relacionados com a ocupação populacional destas áreas”, revela.

Pontos críticos – As análises isentam as indústrias de Cubatão e o Emissário Submarino como fontes atuais de poluição. As favelas da margem esquerda do Porto, os canais de drenagem pluvial e as regiões do Terminal de Pesca de Santos (TPS) e da Fortaleza da Barra são os mais graves. Somente nas palafitas de Vicente de Carvalho, o material orgânico extrapola os níveis permitidos. “Além dos coliformes fecais, retiramos sacos, garrafas, aparelhos eletrônicos, pilhas e todo o imaginário do fundo do canal”.
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As proximidades do TPS e do Ferry Boat, o oceanógrafo revelou surpresas negativas. Foram coletadas estopas sujas de graxa, filtros de óleo de motor e resíduos oriundos de material detergente, o que indica a lavagem e manutenção de equipamentos. O fluxo de embarcações na região também destaca outra preocupação do pesquisador. “Apesar das normas, a maioria dos barcos não tratam seus esgotos, despejando diretamente no mar. O correto seria descarregar os efluentes nas marinas e providenciar a destinação correta”.

Em 2007, as pesquisas também revelaram uma espécie de lama fluída que abriga a maioria das toxinas. Ela fica em movimento no fundo do Estuário e se concentra em maior quantidade numa vala localizada em frente a Fortaleza da Barra. “Dependendo das correntes marinhas, ela pode contaminar as praias. Todos estes pontos geram resíduos químicos, orgânicos e metais pesados na água. Ocupações irregulares nos mangues de São Vicente e da Zona Noroeste também ajudam nesta poluição”, lamenta o professor.

Canais – Projetados com visão de futuro e responsáveis pela higiene sanitária no passado, fazem papel de herói e vilão no presente. Livram a Cidade das enchentes, mas colaboram em grande parte com a poluição das praias. “Apesar da ótima limpeza urbana, a Cidade cresce e a sujeira também. São galhos de arvores, esgotos irregulares, resíduos de lavagem de carros, bitucas de cigarros e outras coisas que os canais levam às praias com as fortes chuvas”.

Seus estudos mostram que quando as comportas dos canais são abertas, uma mancha de poluentes atinge um raio de 100 metros ao desembocar no oceano. Levando em conta todos os canais de Santos, praticamente toda a orla fica poluída e imprópria para o banho. “Se não chover e dependendo das marés, a praia fica limpa depois de 15 dias. As ondas ajudam a purificar novamente a água do mar. A saída seria aprofundar os canais ou aumentar o interceptor que leva as águas pluviais para a EPC. Mesmo assim, não sei se o sistema iria suportar algumas enxurradas. A melhor solução ainda é estudar”.

Alerta – Ele concorda com as melhorias do Programa Onda Limpa, mas faz críticas ao projeto. “Do ponto de vista da engenharia, o emissário cumpre seu papel legal. O prolongamento da tubulação será bom, pois a área de hoje está esgotada. Quanto mais longe o esgoto for lançado, melhor para as praias. Mas defendo o monitoramento ambiental e o estudo hidrodinâmico das ondas na sua rotina de funcionamento. É raro de acontecer, mas em caso de ressacas marinhas, os poluentes podem atingir a orla santista”.

Durantes as pesquisas, o oceanógrafo passou 24 horas sobre a boca do emissário. Ele analisou o cheiro, os peixes e a disposição dos efluentes em situações distintas. “Existem emissários que são monitorados por bóias eletrônicas. Elas atualizam informações em tempo real. Sou a favor da divulgação destes índices, como é feito com a qualidade das praias. Assim, a população e as autoridades teriam mais cuidado. Hoje, a nossa consciência ambiental termina quando a água sai pelo ralo de casa”.

O professor explica que o estuário santista é composto pelos rios da região, canal do Porto, praias e Baía de Santos. Ainda lembra que este sistema está cercado por Áreas de Proteção Ambiental (APA), como a Serra do Mar e os parques Xixová-Japuí, Forte dos Andradas e Laje de Santos. “Nenhuma cidade da Baixada Santista obteve o selo verde do governo estadual. Só iremos minimizar os impactos ambientais destas áreas com ações e gestão integrada do Estado, municípios, União e iniciativa privada”.
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Com outros oceanógrafos de Santos, o pesquisador fundou a ONG Observatório Oceanográfico. Sua intenção é realizar estudos focados nos ambientes marinhos e promover a preservação destes ecossistemas. “Ainda estamos engatinhando, mas estamos fortes na proposta de difundir o conhecimento oceanográfico para a sociedade”, conclui Belém.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Recuperação impõe muitos desafios - "Santos 463 anos"

Fotos: Divulgação


O contexto histórico do meio ambiente no cais santista, os passivos ambientais e os desafios da modernização em tempos de preservação ecológica

Por Marcelino Silva

O engenheiro Cândido Gaffreé e o empresário Eduardo Guinle fundaram a Companhia Docas de Santos e deram início ao ciclo de atividades organizadas no cais santista. O que eles não imaginavam é que o empreendimento fosse gerar tantas situações ambientais depois de 100 anos de operação. Afinal, em grande parte do século 20, a preservação ecológica não era tratada de forma séria no Brasil e não existiam leis para que isso fosse feito. Hoje, os passivos ambientais e a modernidade ameaçam e impulsionam a produção do Porto de Santos.


Atualmente, a sustentabilidade ambiental depende do gerenciamento das leis no complexo portuário, visando o monitoramento das atividades existentes e dos projetos de expansão. A fiscalização de vazamentos, a destinação dos resíduos, o licenciamento das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como as avenidas perimetrais, o uso e ocupação do solo e a certificação ambiental de todo o Porto são as principais metas deste trabalho. Mesmo com estes desafios, a Autoridade Portuária carece de biólogos, oceanógrafos e técnicos ambientais no seu quadro de profissionais.

Segundo a superintendente de Qualidade, Meio Ambiente e Normalização da Codesp, Alexandra Sofia Grota, a grande dificuldade é lidar com uma cultura que nunca foi desenvolvida ao longo da história. “Temos que vigiar o operacional e cuidar dos passivos ambientais do passado. Isso é muito difícil com o Porto em pleno funcionamento. Estamos aprendendo na prática. Desde o início dos anos 90, a Cetesb cobra ações nessa área, mas somente em 1999 criamos uma superintendência para cuidar disso dentro da empresa”.

Dragagem – Alguns acontecimentos marcaram as questões administradas pela Codesp, exigiram mudanças de cultura e refletiram seus resultados. Em 2001, problemas ambientais paralisaram a dragagem de manutenção do canal de navegação do Porto, alertando um possível caos nas operações de carga e descarga. No ano de 2004, a estatal conseguiu o licenciamento ambiental. Neste intervalo, o trabalho foi executado sob liminar judicial. “Fizemos os estudos e os monitoramentos necessários. Essa dedicação nos possibilitou a autorização para dragar novamente”, relembra.
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A licença foi renovada em 2008. São dragados atualmente por volta de 200 a 700 mil metros cúbicos mensais de sedimentos contaminados. Um mês compensa o limite coletado no outro, dentro dos níveis permitidos pela Cetesb. Alexandra conta que este é o maior custo ambiental da Autoridade Portuária. “Passamos a conhecer melhor a região e ganhamos uma defesa científica sobre o descarte do material. Ele não polui as praias e o local de disposição se recupera bem. Este trabalho de monitoramento custa R$ 4 milhões por ano”.

Os sedimentos são dispostos numa área oceânica, nas proximidades da Ilha da Moela. O oceanógrafo André Luiz Belém diz que este é o principal passivo ambiental de Santos. “Não podemos voltar à época das cavernas. A dragagem é necessária para o Porto e para o meio ambiente. Mas acho que os resultados do monitoramento deveriam se tornar públicos. Também não concordo com o local do descarte. Alguns aspectos não foram estudados a fundo, como as ondas, o processo de sedimentação real e a influência nas Áreas de Proteção Ambiental, a exemplo da Laje de Santos”.


Belém explica que a contaminação no fundo do canal do Porto tem origem em várias fontes poluidoras. Algumas são atuais e outras decorrem de épocas onde não existia consciência ambiental. Uma delas foi a reversão do Rio Pinheiros, para que a Represa Bilings conseguisse gerar energia na Usina Henry Borden, em Cubatão. Este processo trouxe resíduos industriais da Grande São Paulo para o estuário santista. As ocupações urbanas irregulares, o pólo industrial cubatense e as atividades portuárias também poluíram.

Outros marcos – A área do antigo lixão da Alemoa é outro ponto crítico em termos ecológicos. Alexandra conta que a Cidade e o complexo portuário depositaram lixo por muitos anos naquele terreno, causando a contaminação do solo em grandes proporções. Hoje, o espaço está arrendado para a BTP (Brasil Terminal Portuário). Acompanhada pela Cetesb, a empresa está desenvolvendo um projeto para a recuperação ambiental do lugar. Depois de licenciada, ela deve instalar suas operações no local.
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Outra iniciativa ocorreu a partir da Lei de Modernização dos Portos (Lei 8.630/93), onde a Codesp investiu no saneamento básico do Porto. Em parceira com a empresa Water Port, ela tornou a margem direita auto-suficiente em água potável e esgotamento sanitário. Foram quilômetros de tubulações, adutoras e novas estações de tratamento de água e efluentes orgânicos. É feita a coleta, o tratamento e destinação final do esgoto gerado no cais.

A captação da água, feita no Rio Trindade, na Área Continental, passa por análises periódicas de qualidade e consumo. A fauna também é monitorada, garantindo a proteção das espécies do rio. Antes da modernização, o sistema não era 100% eficiente, o que aumentava os riscos de contaminação do estuário. Na margem esquerda do Porto, em Guarujá, o tratamento sanitário e feito por meio de fossas sépticas. O abastecimento da água é provido pela Sabesp.

Área Continental – A expansão portuária nessa região de Santos sempre gerou discussões ambientais. Os ambientalistas defendem a proteção permanente e as autoridades dizem que o Porto precisa crescer. A superintendente explica que toda atividade portuária gera impactos em qualquer lugar do mundo. “O que temos que fazer é minimizar ao máximo as agressões ao meio ambiente e adotar ações de responsabilidade socioambiental”.
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Ela cita o exemplo do projeto Embraport. Ele está fora do Porto organizado e irá ocupar parte de um terreno de um milhão de metros quadrados, entre os rios Sandy e Diana. Promete ser o maior terminal privativo multiuso da América Latina e aumentar em 15 % o movimento do Porto de Santos. “Diferente das áreas antigas, o Embraport vai começar algo do zero. O seu licenciamento foi feito por empresas sérias e o Ibama aprovou seu estudo. Temos um novo precedente para a exploração portuária da Área Continental”.
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No caso de Barnabé-Bagres, não existem estudos ambientais completos para o projeto. Ainda não está definido o modelo de ocupação, os produtos movimentados e as finalidades do espaço. Sob jurisdição da Codesp, o lugar também está fora da área de concessão do Porto. Os estudos de viabilidade econômica e ambiental estão sendo feito por diversas empresas interessadas em explorar o local. A idéia da estatal é obter as informações e seguir os modelos ambientais aplicados na concepção do projeto Embraport.

Cooperação – Segundo Alexandra, a maior atenção ambiental da Autoridade Portuária é focada nos os arrendamentos de áreas antigas do Porto. Por outro lado, a preocupação é aliviada pelas iniciativas das empresas concessionárias. Em busca das certificações de Gestão da Qualidade (ISO 900), Gestão Ambiental (ISO 14001) e Gestão da Saúde e Segurança Ocupacional (OHSAS 18001), elas desenvolvem ações que beneficiam a preservação ecológica no complexo portuário e capacitam seus profissionais.

Em obras recentes, como o Embraport, o TGG (Terminal de Granéis do Guarujá) e o TEV (Terminal de Exportação de Veículos), não existem preocupações ambientais sérias. “São bem licenciados do começo ao fim. Fizemos isso nas avenidas perimetrais e na dragagem do canal. Em outro projeto importante, vamos obter uma única certificação ambiental para o Porto de Santos. O Ibama já emitiu o termo de referência para análise. A previsão é que até o fim de 2009 o estudo esteja pronto”. Empresas também apóiam campanhas públicas de preservação e realizam a coleta seletiva do lixo em seus recintos.

“Estamos buscando uma forma de corrigir os erros do passado e crescer com qualidade. O legado está sendo construído, mas o processo é lento e o aprendizado constante. Tivemos bons avanços, mas o Porto não ficará perfeito da noite para o dia. Temos muita coisa a fazer”, conclui a superintendente.


Navios colaboram com a reciclagem de óleo

A geração de resíduos sólidos e líquidos nas operações portuárias é uma das principais preocupações ambientais da Codesp. Assim como os automóveis, as embarcações utilizam o óleo para lubrificar seus motores. O processamento da casa de máquinas dos navios gera uma mistura de água, lubrificantes e outros derivados químicos. Durantes as viagens, este material é armazenado num reservatório e precisa ser eliminado nas atracações. As autoridades sanitárias podem não autorizar a saída do Porto sem a devida certificação do descarte.

Esta atenção nasceu em 1973, por meio da Marpol – Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição Causada por Navios. Em 2006, ela foi revisada pelos órgãos internacionais. No Brasil, a Lei 9966/2000 regula este setor. Ela dispõe sobre a prevenção, controle e fiscalização dos poluentes causados por óleo e substâncias perigosas em águas sob jurisdição federal. Antes destas medidas, muitos navios despejam seus resíduos em alto mar. Alguns contaminavam indiscriminadamente o estuário dos portos onde atracavam.

Em Santos, empresas se especializaram na realização da coleta do óleo descartado pelas embarcações. Uma delas é a Comtrol Comércio e Transportes de Óleo. Foi criada em 1991, por causa dos acidentes ambientais na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Veio para Santos para atender as operações geradas pela movimentação de navios no Município. “Hoje, a demanda santista é responsável por mais de 70% do faturamento e das operações da empresa. O nosso foco é coletar e destinar corretamente os resíduos de cargueiros de diversos portes”, explica Ricardo Machado Botelho, gerente da Comtrol.

Diferencial – Botelho explica que o trabalho da empresa é realizado com barcaças, o que permite realizar a coleta dos fluídos por meio marítimo. Algumas empresas fazem o serviço com caminhões tanque, aumentando o trânsito nas vias portuárias. “Carregamos até 500 toneladas em cada embarcação. Isso equivale a capacidade aproximada de 16 carretas. Outro dado importante é que somos a única empresa deste segmento em Santos que possui os certificados ISO 9000 e 14001 para realizar estas operações”.
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A base operacional da Comtrol está estrategicamente localizada no Canal de Bertioga, às margens da Rodovia Cônego Domenico Rangoni. É neste local que tanques recebem o material coletado pelas barcaças. Posteriormente, os resíduos são levados para empresas especializadas na separação destes fluídos. O óleo é revendido para abastecer caldeiras industriais, a borra sólida é incinerada e a água é utilizada no próprio processo da empresa recicladora.“Temos estrutura para atender acidentes em pequena escala, relacionados diretamente com nossas atividades.
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Para isso, possuímos coletores de óleo e bóias de contenção. Trabalhamos para que isso nunca ocorra, mas também podemos colaborar com os planos mútuos de emergência da Cetesb. Vejo que o maior desafio do Porto é evitar que resíduos químicos contaminem os mananciais e o estuário de Santos”, finaliza o gerente.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Bons negócios com a reciclagem - "Santos 463 anos"

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Fotos: Marcelino Silva



Além de colaborar com a preservação ambiental na Cidade, projetos promovem a educação e resgatam a dignidade de alguns cidadãos santistas

Por Marcelino Silva

Desde que foi iniciado na década de 90, o trabalho de reciclagem do lixo da Prefeitura de Santos passou por algumas fases. O projeto já foi reconhecido como uma das experiências mais bem sucedidas de coleta seletiva de resíduos domésticos em todo o Brasil. A época em que os alunos da rede municipal de ensino ganhavam cadernos fabricados com papel reciclado comprova o importante estágio que o Lixo Limpo conseguiu atingir. Hoje, os custos operacionais, as iniciativas paralelas, a conscientização da população e o resgate social são os desafios para a continuidade do projeto.

O engenheiro e assistente de gabinete da Secretaria de Meio Ambiente de Santos (Semam), Carlos Tadeu Eizo, explica os principais objetivos deste trabalho. “Temos que despertar a consciência da população para a preservação ambiental. Várias modalidades da Engenharia apostam nisso, pois a matéria prima natural está cada vez mais cara e difícil de encontrar. Dando o destino correto aos resíduos sólidos, poupamos os aterros sanitários e damos vida nova aos materiais. Também conseguimos minimizar o problema do lixo nas ruas, gerando renda e inclusão social para quem sobrevive da reciclagem”.

O engenheiro diz que sozinho nenhum município é capaz de gerenciar essa questão. Para ele, outras iniciativas geram oportunidades eficazes e descentralizadas. Em Santos, igrejas, supermercados, empresas e condomínios exploram em grande escala o lado econômico do lixo. O movimento mostra que a causa ambiental também tem importância financeira para a sociedade, algo que já é ditado pelas regras do mercado. “A crise retraiu o consumo e tivemos menos material para reciclar. O valor de venda do plástico, do alumínio e do papelão caiu cerca de 50% nos últimos meses de 2008”.



Cooperativismo – Apesar das críticas que o Lixo Limpo recebe referente aos custos operacionais, o engenheiro justifica que o compromisso social do projeto vai além das questões ambientais. “Ajudamos famílias com o sustento básico, palestras e outras ações. Acima de tudo, a questão humana de manter pessoas no mercado de trabalho é a mais importante no momento”. Somente na usina de separação de lixo da Prodesan, localizada no bairro da Alemoa, cerca de 80 trabalhadores desenvolvem atividades diariamente.

A Cooperativa Mista Paratodos é a responsável pela mão-de-obra desses cidadãos. Um decreto municipal regularizou o trabalho da entidade, que funciona como braço operacional do Lixo Limpo, enquanto a Prodesan cuida do processo administrativo e dos caminhões que fazem a coleta seletiva pelas ruas da Cidade. Ela é composta por ex-catadores do antigo lixão da Alemoa, moradores da Vila dos Criadores e usuários do serviço de saúde mental do Município. Os pacientes são encaminhados pela Secretaria de Saúde, recebem assistência médica e psicológica e são liberados para trabalhar no local.

Aparentemente, o simples fato de conviver em grupo e manusear materiais que passam pela esteira de separação já faz uma grande diferença na vida dessas pessoas. A alegria se mostra constante entre pilhas de garrafas plásticas e montanhas de papelão. A cooperativa garante salários, uniformes, café da manhã, almoço e cesta básica aos cooperados. São divididos em três turnos que trabalham de segunda a sexta-feira. Eles recebem um salário mínimo por mês e a carga horária pode variar entre seis e oito horas por dia.

Em 2007, a usina processou por mês cerca de 150 toneladas da coleta seletiva, índice superado pelas 200 toneladas registradas mensalmente em 2008. Perto de 30 toneladas deste material é rejeitado e tem como destino o aterro sanitário do Sítio nas Neves, na Área Continental. “Nem tudo é aproveitado, mas o impacto ao meio ambiente é minimizado. Com as iniciativas paralelas, a reciclagem em Santos tem números bem maiores que estes”. Depois de separado, o material é vendido pela Prodesan a uma empresa especializada neste tipo de resíduo. O dinheiro é utilizado pela Prefeitura na continuidade do projeto.

Educação – Alguns projetos de conscientização e aumento da coleta seletiva são desenvolvidos pela Prefeitura, sociedade civil e iniciativa privada. Um exemplo disso é o Programa Santos Nossa Casa, apoiado pela Libra Terminais e pelo Rotary Club. Ele está dividido em projetos chamados Nosso Morro, Nosso Bairro e Nossa Praia. Por meio de agentes comunitários, visam multiplicar as ações e informar a população sobre a importância ecológica na Cidade. “A continuidade desta parceria é fundamental para que o Programa alcance toda a Cidade em 2009”, explica o engenheiro da Semam.

Segundo ele, as campanhas de educação ambiental são importantes, pois boa parte da população não pratica a ação básica de separação do lixo. “Não sei até que ponto será necessário educar o povo. Só é considerado lixo aquilo que já foi separado e não serve para ninguém. A população conhece o método, mas acho que existe um problema de baixa estima em fazer este trabalho. Ainda podemos melhorar muito este processo. Temos que tratar o lixo com algo coletivo e que pode trazer benefícios para toda a sociedade”, conclui.



Resgate social – Com o Ensino Fundamental incompleto, Marlene Ribeiro Atílio é um dos diversos exemplos de inclusão social existentes no Lixo Limpo. Desempregada e separada do marido, ela trabalhou como catadora no antigo lixão da Alemoa por mais de um ano. A cada empreitada, ela recolhia restos de materiais plásticos e os trocava por uma cesta básica. “Essa era uma das formas de abastecer a casa e matar a fome dos meus dois filhos”, lembra sem saudades do lugar fétido e habitado pelos urubus.

Hoje, a moradora da Vila dos Criadores tem orgulho em ajudar o filho desempregado e se diz feliz pelo outro que já está casado. Trabalhando na Paratodos desde 2002, ela atuou por três anos na separação manual do lixo. Atualmente, ela ocupa os cargos de servente de cozinha e presidente da cooperativa. A responsabilidade do cargo lhe rende um pouco mais que um salário mínimo por mês. “Gosto de arrumar o refeitório e servir o almoço para os colegas. Adoro trabalhar nesse lugar, pois é daqui que tiro meu sustento e cultivo minha amizades. Vou a loucura se perder isso tudo”, desabafa.

As eleições na cooperativa são em junho. Marlene diz que não é preciso se candidatar, pois todos a querem novamente na presidência. “Já fui eleita a miss simpatia da usina. Todos gostam de mim aqui”. A servente também revela seus desejos pessoais. “Acabaria com as drogas no mundo, pois muitos jovens perdem a vida por elas. Também mudaria a cabeça das pessoas, pois o mangue perto da minha casa está cheio de sujeira”. Perguntada sobre o que representa o lixo na sua vida, ela é objetiva. “Dependendo do lugar, representa sujeira e tristeza. Dependendo da ação, significa dinheiro e sustento”.

Apostando num estilo ecológico e futurista


Se a preocupação do projeto Lixo Limpo é a geração de renda, a inclusão social e a conscientização popular, outra aposta ambiental é feita por Luciano Mabilde, proprietário da Mabilde Design, projeto residente na Incubadora de Empresas de Santos. Formado pela Escola Panamericana de Arte e profissional de Desenho Industrial pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, o artista se especializou em transformar o lixo em luxo, algo protagonizado pelo carnavalesco Joãozinho Trinta no carnaval carioca.

Semelhanças à parte, Mabilde trabalha com formatos orgânicos e arredondados na confecção de presentes empresariais e utensílios para o lar. Seus clientes vão desde multinacionais que encomendam peças corporativas até a dona de casa que gosta de decoração. “Tenho a proposta de deixar o mundo mais alegre e colorido, sem perder a inovação tecnológica e o respeito ao meio ambiente. É o que chamamos de Eco Design. Minha tendência segue a linha alemã, com objetos sem detalhes e com funcionalidade prática”.

O artista é reconhecido pela fabricação de porta-retratos e bandejas com estilo próprio. Seu trabalho já rendeu a comercialização numas das principais lojas do segmento de decoração em São Paulo e a exportação para Miami (EUA). As peças são confeccionadas a partir da montagem de resíduos industriais como alumínio, aço carbono, garrafas plásticas, vidros, entre outros materiais alternativos ou reciclados. Muitas vezes, Mabilde busca no lixo a matéria-prima necessária para desenvolver suas novidades.

Hoje, o carro-chefe na sua linha de criação é o pen drive ecológico, fabricado a partir da madeira certificada ou resgatada de entulhos da construção civil. “É um produto que une o novo com o velho, a tecnologia com o rústico. Também usei a madeira reflorestada e produzir brindes para uma grande fábrica de celulose. Isso produz um marketing socialmente responsável na imagem das empresas”. Apesar do estilo marcante, ele faz questão de dizer que busca algo novo a cada momento. “Não estou preso a catálogos prontos. O design deve ter humildade e se adequar as novas tendências do mercado”.


Criatividade – Uma das novidades beneficiadas pelo artista faz parte da cena urbana dos santistas. Ao perceber o descarte de tubulações não aproveitadas na construção da rede de gás natural de Santos, ele solicitou o material junto ao deposito. Aquilo que deixou de ser um gasoduto e que possivelmente fosse poluir o meio ambiente, foi transformado em mesas, sofás e luminárias para decoração. “Algumas fábricas têm montanhas de lixo que pode virar presentes corporativos ou dar vida a novos produtos. Foi o que fizemos com os tubos de gás”.

Outros produtos desenvolvidos pelo design têm como matéria-prima as bisnagas de creme dental. Depois de limpas e trituradas, elas se transformam em placas compactas com diversas utilidades. Podem ser usadas na fabricação de telhados, geladeiras térmicas, caixas acústicas, entre outros. “É preciso criar a cultura para que a comunidade recicle este tipo de resíduo doméstico, pois é composto por plástico e alumínio. Ao mesmo tempo em que agride a natureza, ele é muito útil no processo de reciclagem”.

Caixinhas de leite, pastilhas feitas do coco maduro e a fusão de vidros reciclados também fazem parte das técnicas utilizadas. São usadas na decoração de ambientes e na fabricação de jogos de raciocínio rápido e materiais de escritório. Depois de alguns anos como empreendedor, Mabilde ainda encara a sazonalidade deste tipo de mercado. “Posso trabalhar sozinho em parte do ano e, de uma hora para outra, tenho que contratar profissionais terceirizados para atender grandes demandas que aparecem”.



O lado financeiro também sofre oscilações. Em alguns meses, seu faturamento pode variar de zero a R$ 100 mil. Ele traça planos para o futuro e revela parte de sua inspiração artística. “Quero ter uma loja própria, abrir franquias do negócio e montar uma fundação voltada para o Eco Design. Santos é inspiradora pela qualidade de vida. Um design tem que estar com a mente equilibrada. A Cidade oferece condição para isso”.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Consciência às novas gerações - "Santos 463 anos"

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Fotos: Marcelino Silva / Divulgação Seduc


Projetos de educação ambiental nas escolas mostram a importância de ensinar a preservação ecológica para as crianças santistas

Por Marcelino Silva

O sistema de ensino no Brasil ainda não adotou de forma integrada a educação ambiental nas escolas púbicas. Projetos que aplicam o método à grade curricular são feitos isoladamente em estados, municípios e colégios particulares que adotam a iniciativa. Em Santos, o trabalho é desenvolvido pela Seção de Projetos Educacionais Especiais da Secretaria de Educação (Seduc). Com a participação de professores, empresas e sociedade, diversas ações despertam o interesse dos alunos da rede municipal pelas causas ambientais da comunidade.

Com vivência prática, eles mostram o que restou da vegetação de Mata Atlântica na Cidade. A idéia surgiu em 2004, quando professores sentiram a necessidade das crianças conhecerem as belezas da Área Continental de Santos. O contato com a natureza era feito em visitas à Fazenda Cabuçu, às margens da rodovia Rio-Santos “Procuramos sensibilizar pais, alunos e professores sobre a importância dos refúgios ecológicos existentes no Município”, explica Débora Marreiro, educadora da equipe interdisciplinar da Seduc.

Hoje, um dos projetos que causam entusiasmo nos alunos é a Trilha do Boi Morto, no morro da Nova Cintra. A lenda conta que antigos moradores da região encontraram um boi morto no lugar. Em ida e volta, o percurso explorado pela Seduc tem cerca de quatro quilômetros de extensão. A trilha começa perto da Lagoa da Saudade, passa por trechos de mata fechada e termina no Horto de São Vicente. O ponto alto do passeio é a Lagoa do Boi Morto, caprichosamente escondida no maciço que divide Santos de São Vicente. A maioria dos santistas não imagina que exista outra lagoa fincada nos morros da Cidade.

Participação – Voltado para estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental, o projeto já atendeu cerca de 1300 alunos. No máximo 40 crianças participam de cada trilha. Todas as escolas da rede municipal têm acesso ao passeio. A seleção é feita por meio de um projeto ambiental encaminhado à Seduc. A escolha é necessária para que todos tenham real interesse pelo assunto. Os professores também precisam se identificar com o trabalho. Os colégios participantes assumem o compromisso de promover a formação continuada em educação ambiental para suas equipes.


A Seduc providencia o transporte dos alunos até o local e recebe o apoio da Guarda Municipal durante a realização do percurso. Antes de cada passeio, a equipe interdisciplinar realiza dinâmicas com a escola participante. São explicados os cuidados que os alunos devem ter com o meio ambiente, o que vão encontrar e o que vão aprender durante o passeio. “Queremos despertar o olhar crítico antes, durante e depois de cada visita à Trilha do Boi Morto”.

Ao longo do trajeto, alunos e, eventualmente seus pais, têm contato físico e visual com a fauna e a flora remanescentes no lugar. “Com sorte, é possível observar macacos, bichos-preguiças, tucanos, papagaios e pássaros diversos. A alface d’água que cobre a superfície da Lagoa do Boi Morto também desperta a curiosidade pelo estudo da espécie. Isso promove o interesse pelo meio ambiente e mostra a importância da sua preservação”.

Resultados – Débora conta que a educação ambiental é um trabalho de formiguinha e seus resultados só aparecem em longo prazo. “Aos poucos percebemos a mudança de comportamento, atitude e visão nos alunos. Plantas que não tinham valor começam a receber o respeito e a proteção deles. Outro indicador ocorre durante o percurso. Eles reclamam quando encontram sujeira no caminho, querem recolher o lixo e condenam a pessoa que poluiu a mata. Isso mostra que a consciência ambiental está presente em suas vidas”.

A cada semestre, a Seduc solicita um relatório com registros escritos e fotográficos das atividades realizadas após a trilha. É uma forma de avaliar a eficácia e o interesse do projeto junto aos alunos e professores de cada escola participante. “De forma geral, eles adoram e aprovam a iniciativa. Encontramos um aluno depois de dois anos em que participou do projeto. Ele disse que jamais jogou um papel no chão depois da experiência na Trilha do Boi Morto. Isso é gratificante demais para nós”, conclui orgulhosamente Débora.



Valéria Vegas, da Seção de Projetos da Seduc, ressalta a importância da preservação. “Nestes 463 anos da Cidade, espero que o santista aja como o João de Barro. O pássaro constrói e zela pela própria casa. Mas para isso, não destrói nada. Utiliza somente materiais que sobram na natureza, como restos de galhos, folhas e terra”. A educadora Maria Del Carmen, que também participa da equipe, utiliza o filósofo Edmund Burke para justificar o trabalho. “Ninguém comete maior erro do que aquele que nada fez, só porque pouco podia fazer”.

Outras ações de Educação Ambiental com as crianças

Projeto Horta – Visa fornecer subsídios para a implantação de horta nas escolas. Por meio de suas propostas pedagógicas, elas inserem o projeto interdisciplinar em suas unidades. A idéia tenta levar ao aluno um trabalho de contato com a terra, experimentando sensações que hoje estão distantes de seu dia-a-dia e incentivando o consumo de alimentos naturais de qualidade.

Olho no Óleo – Em parceria com a empresa Marim Resíduos, o projeto visa sensibilizar os alunos do Ensino Infantil e Fundamental, por meio de apresentação teatral e de um gibi, sobre a importância da preservação ecológica. Os males causados pelo descarte dos resíduos de óleo de cozinha são abordados. Também é mostrada a correta destinação do produto. A escola serve de ponto de coleta do óleo usado que é enviado para a reciclagem.

Projeto Ecoviver - Apoiado pela Ecovias, promove discussões sobre o acúmulo do lixo e fomenta ações para contribuir com sua redução. São realizadas oficinas com professores que são orientados a desenvolver trabalhos de conscientização ambiental. Ao final do projeto, os alunos realizam exposições e apresentações artísticas que focam a importância do consumo e do descarte adequado dos resíduos gerados nas residências.

VouVolto – Projeto de educação ambiental que ocorre nas Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos, sendo desenvolvido em parceria coma a USP. Visa a consciência ambiental e patrimonial por meio de visita ao local, permitindo aos alunos vivenciarem situações de exploração de forma consciente, apreciando o bem cultural e identificando aspectos históricos e ambientais.

Ludoteca Ecológica - Ocorre no Jardim Botânico de Santos, por meio de uma educadora da Seduc que desenvolve trabalhos de educação ambiental no lugar. Permite às crianças visitantes deste espaço o contato com atividades e brinquedos que levem à consciência ambiental, permitindo, por meio lúdico, a reflexão sobre atitudes cotidianas para a sustentabilidade ecológica.

Educação empresarial com inteligência


Em tempos de responsabilidade social e mercado global competitivo, Educação Ambiental não é exclusividade de crianças em idade escolar. É o que mostra o trabalho do consultor Claudio Lopes Tosta. Depois de atuar por muitos anos na indústria química, com atribuições tecnológicas, ele ingressou na carreira do Direito. Depois da experiência com o Judiciário, o advogado apostou nas questões ambientais. Fez pós-graduação em Gestão Ambiental e especialização em Gestão do Conhecimento e auditoria da Norma ISO 14001.

Esta base de conhecimento faz dele sócio-diretor da Inteligência Ambiental, fundada em 2004 na Incubadora de Empresas de Santos. Hoje, caminhando com força própria, a empresa atua em consultoria e educação empresarial baseadas nas legislações em Meio Ambiente, Transporte de Produtos Perigosos e Saúde e Segurança Ocupacional. “Prestamos assessoria técnica para que as empresas consigam cumprir os requisitos legais dos seus negócios. Queremos fomentar boas práticas ambientais e ensinar o empresário a melhorar seus processos e produtos de forma sustentável”, explica Tosta.

Ele diz que, diferentemente de outras épocas, os empreendimentos atuais devem ter os cuidados corretos com as questões ambientais, seja antes ou depois de construídos. “Para erguer uma fábrica numa determinada região é necessário conhecer as regras ambientais. Não damos palpite no projeto de construção, mas colaboramos com um levantamento estratégico sobre a legislação existente no local da obra. Nas empresas já constituídas, adequamos suas atividades para que possam atender as leis vigentes nos estados, municípios e País”.

Treinamentos – O consultor também prepara corporações de vários segmentos para as principais certificações do mercado. Essa expertise obrigou que sua própria empresa obtivesse tais qualificações, sendo a única do seu ramo a possuir as certificações ISO 9001 (Gestão da Qualidade), ISO 14001 (Gestão em Meio Ambiente), OHSAS 18001 (Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional) e SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade - para o transporte de produtos perigosos).

Seus clientes são instituições que precisam implantar as normas ou desenvolver ações ambientais planejadas. “Os treinamentos respeitam o público alvo. Temos palestras e conteúdos voltados para gestores, mas também possuímos linguagens focadas no pessoal operacional. Empresas de engenharia são exemplos disso. Elas estão com uma visão preventiva em termos de preocupação ambiental. Isso é uma grata surpresa para nós”, revela.

O Sistema Integrado de Legislação Aplicável (SILA) é a principal ferramenta de consultoria da Inteligência Ambiental. Ele é responsável pela presença da empresa santista em vários estados brasileiros. Trata-se de um software via internet, onde cada cliente acessa sua área e recebe informações estratégicas sobre a legislação que envolve o seu negócio. “Temos leis novas todos os dias no Brasil. Por meio de consultoria, levantamos as necessidades das empresas e atualizamos seus bancos de dados de forma personalizada”.

Postura – A responsabilidade ambiental no Brasil foi acontecendo aos poucos na história. Em 1981, a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6938/81) trazia novidades interessantes para a época. A situação do Vale da Morte, em Cubatão, provocou reações políticas em 1984. Já em 1988, o artigo 225 da nova Constituição brasileira passou a olhar as questões ecológicas. Depois vieram os movimentos pelo mundo, como a ISO 14001, em 1994. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) traduziu as normas dessa ISO no Brasil, mas quase ninguém seguiu suas diretrizes.

Tosta diz ter uma visão critica sobre as políticas ambientais das empresas. Para ele, a mudança de comportamento foi impulsionada pelas certificações e pelas leis. “Sempre falo isso aos clientes. O empresário não acordou um belo dia e resolveu mudar o mundo. O grande marco foi a Lei de Crimes Ambientais, em 1998. Os responsáveis podem ser presos e as empresas pagam até R$ 50 milhões em multas. Treinamentos e novos equipamentos se tornaram mais barato que as punições. Hoje, essa visão foi modificada. As empresas sabem que tratar bem o meio ambiente é um bom negócio”.



Em relação a Santos, o consultor revela preocupações pessoais. Ele tem receios de que, em nome do desenvolvimento, a Cidade penalize seu próprio povo. “Por causa do momento econômico, temos empresas e pessoas vindas de fora. Não temos espaços aqui, mas o entorno pode ser invadido como no passado. Quero que o Município e seus governantes ponderem as formas de crescimento, sem pular fases no momento das decisões”, faz o alerta.