domingo, 25 de janeiro de 2009

Consciência às novas gerações - "Santos 463 anos"

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Fotos: Marcelino Silva / Divulgação Seduc


Projetos de educação ambiental nas escolas mostram a importância de ensinar a preservação ecológica para as crianças santistas

Por Marcelino Silva

O sistema de ensino no Brasil ainda não adotou de forma integrada a educação ambiental nas escolas púbicas. Projetos que aplicam o método à grade curricular são feitos isoladamente em estados, municípios e colégios particulares que adotam a iniciativa. Em Santos, o trabalho é desenvolvido pela Seção de Projetos Educacionais Especiais da Secretaria de Educação (Seduc). Com a participação de professores, empresas e sociedade, diversas ações despertam o interesse dos alunos da rede municipal pelas causas ambientais da comunidade.

Com vivência prática, eles mostram o que restou da vegetação de Mata Atlântica na Cidade. A idéia surgiu em 2004, quando professores sentiram a necessidade das crianças conhecerem as belezas da Área Continental de Santos. O contato com a natureza era feito em visitas à Fazenda Cabuçu, às margens da rodovia Rio-Santos “Procuramos sensibilizar pais, alunos e professores sobre a importância dos refúgios ecológicos existentes no Município”, explica Débora Marreiro, educadora da equipe interdisciplinar da Seduc.

Hoje, um dos projetos que causam entusiasmo nos alunos é a Trilha do Boi Morto, no morro da Nova Cintra. A lenda conta que antigos moradores da região encontraram um boi morto no lugar. Em ida e volta, o percurso explorado pela Seduc tem cerca de quatro quilômetros de extensão. A trilha começa perto da Lagoa da Saudade, passa por trechos de mata fechada e termina no Horto de São Vicente. O ponto alto do passeio é a Lagoa do Boi Morto, caprichosamente escondida no maciço que divide Santos de São Vicente. A maioria dos santistas não imagina que exista outra lagoa fincada nos morros da Cidade.

Participação – Voltado para estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental, o projeto já atendeu cerca de 1300 alunos. No máximo 40 crianças participam de cada trilha. Todas as escolas da rede municipal têm acesso ao passeio. A seleção é feita por meio de um projeto ambiental encaminhado à Seduc. A escolha é necessária para que todos tenham real interesse pelo assunto. Os professores também precisam se identificar com o trabalho. Os colégios participantes assumem o compromisso de promover a formação continuada em educação ambiental para suas equipes.


A Seduc providencia o transporte dos alunos até o local e recebe o apoio da Guarda Municipal durante a realização do percurso. Antes de cada passeio, a equipe interdisciplinar realiza dinâmicas com a escola participante. São explicados os cuidados que os alunos devem ter com o meio ambiente, o que vão encontrar e o que vão aprender durante o passeio. “Queremos despertar o olhar crítico antes, durante e depois de cada visita à Trilha do Boi Morto”.

Ao longo do trajeto, alunos e, eventualmente seus pais, têm contato físico e visual com a fauna e a flora remanescentes no lugar. “Com sorte, é possível observar macacos, bichos-preguiças, tucanos, papagaios e pássaros diversos. A alface d’água que cobre a superfície da Lagoa do Boi Morto também desperta a curiosidade pelo estudo da espécie. Isso promove o interesse pelo meio ambiente e mostra a importância da sua preservação”.

Resultados – Débora conta que a educação ambiental é um trabalho de formiguinha e seus resultados só aparecem em longo prazo. “Aos poucos percebemos a mudança de comportamento, atitude e visão nos alunos. Plantas que não tinham valor começam a receber o respeito e a proteção deles. Outro indicador ocorre durante o percurso. Eles reclamam quando encontram sujeira no caminho, querem recolher o lixo e condenam a pessoa que poluiu a mata. Isso mostra que a consciência ambiental está presente em suas vidas”.

A cada semestre, a Seduc solicita um relatório com registros escritos e fotográficos das atividades realizadas após a trilha. É uma forma de avaliar a eficácia e o interesse do projeto junto aos alunos e professores de cada escola participante. “De forma geral, eles adoram e aprovam a iniciativa. Encontramos um aluno depois de dois anos em que participou do projeto. Ele disse que jamais jogou um papel no chão depois da experiência na Trilha do Boi Morto. Isso é gratificante demais para nós”, conclui orgulhosamente Débora.



Valéria Vegas, da Seção de Projetos da Seduc, ressalta a importância da preservação. “Nestes 463 anos da Cidade, espero que o santista aja como o João de Barro. O pássaro constrói e zela pela própria casa. Mas para isso, não destrói nada. Utiliza somente materiais que sobram na natureza, como restos de galhos, folhas e terra”. A educadora Maria Del Carmen, que também participa da equipe, utiliza o filósofo Edmund Burke para justificar o trabalho. “Ninguém comete maior erro do que aquele que nada fez, só porque pouco podia fazer”.

Outras ações de Educação Ambiental com as crianças

Projeto Horta – Visa fornecer subsídios para a implantação de horta nas escolas. Por meio de suas propostas pedagógicas, elas inserem o projeto interdisciplinar em suas unidades. A idéia tenta levar ao aluno um trabalho de contato com a terra, experimentando sensações que hoje estão distantes de seu dia-a-dia e incentivando o consumo de alimentos naturais de qualidade.

Olho no Óleo – Em parceria com a empresa Marim Resíduos, o projeto visa sensibilizar os alunos do Ensino Infantil e Fundamental, por meio de apresentação teatral e de um gibi, sobre a importância da preservação ecológica. Os males causados pelo descarte dos resíduos de óleo de cozinha são abordados. Também é mostrada a correta destinação do produto. A escola serve de ponto de coleta do óleo usado que é enviado para a reciclagem.

Projeto Ecoviver - Apoiado pela Ecovias, promove discussões sobre o acúmulo do lixo e fomenta ações para contribuir com sua redução. São realizadas oficinas com professores que são orientados a desenvolver trabalhos de conscientização ambiental. Ao final do projeto, os alunos realizam exposições e apresentações artísticas que focam a importância do consumo e do descarte adequado dos resíduos gerados nas residências.

VouVolto – Projeto de educação ambiental que ocorre nas Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos, sendo desenvolvido em parceria coma a USP. Visa a consciência ambiental e patrimonial por meio de visita ao local, permitindo aos alunos vivenciarem situações de exploração de forma consciente, apreciando o bem cultural e identificando aspectos históricos e ambientais.

Ludoteca Ecológica - Ocorre no Jardim Botânico de Santos, por meio de uma educadora da Seduc que desenvolve trabalhos de educação ambiental no lugar. Permite às crianças visitantes deste espaço o contato com atividades e brinquedos que levem à consciência ambiental, permitindo, por meio lúdico, a reflexão sobre atitudes cotidianas para a sustentabilidade ecológica.

Educação empresarial com inteligência


Em tempos de responsabilidade social e mercado global competitivo, Educação Ambiental não é exclusividade de crianças em idade escolar. É o que mostra o trabalho do consultor Claudio Lopes Tosta. Depois de atuar por muitos anos na indústria química, com atribuições tecnológicas, ele ingressou na carreira do Direito. Depois da experiência com o Judiciário, o advogado apostou nas questões ambientais. Fez pós-graduação em Gestão Ambiental e especialização em Gestão do Conhecimento e auditoria da Norma ISO 14001.

Esta base de conhecimento faz dele sócio-diretor da Inteligência Ambiental, fundada em 2004 na Incubadora de Empresas de Santos. Hoje, caminhando com força própria, a empresa atua em consultoria e educação empresarial baseadas nas legislações em Meio Ambiente, Transporte de Produtos Perigosos e Saúde e Segurança Ocupacional. “Prestamos assessoria técnica para que as empresas consigam cumprir os requisitos legais dos seus negócios. Queremos fomentar boas práticas ambientais e ensinar o empresário a melhorar seus processos e produtos de forma sustentável”, explica Tosta.

Ele diz que, diferentemente de outras épocas, os empreendimentos atuais devem ter os cuidados corretos com as questões ambientais, seja antes ou depois de construídos. “Para erguer uma fábrica numa determinada região é necessário conhecer as regras ambientais. Não damos palpite no projeto de construção, mas colaboramos com um levantamento estratégico sobre a legislação existente no local da obra. Nas empresas já constituídas, adequamos suas atividades para que possam atender as leis vigentes nos estados, municípios e País”.

Treinamentos – O consultor também prepara corporações de vários segmentos para as principais certificações do mercado. Essa expertise obrigou que sua própria empresa obtivesse tais qualificações, sendo a única do seu ramo a possuir as certificações ISO 9001 (Gestão da Qualidade), ISO 14001 (Gestão em Meio Ambiente), OHSAS 18001 (Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional) e SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade - para o transporte de produtos perigosos).

Seus clientes são instituições que precisam implantar as normas ou desenvolver ações ambientais planejadas. “Os treinamentos respeitam o público alvo. Temos palestras e conteúdos voltados para gestores, mas também possuímos linguagens focadas no pessoal operacional. Empresas de engenharia são exemplos disso. Elas estão com uma visão preventiva em termos de preocupação ambiental. Isso é uma grata surpresa para nós”, revela.

O Sistema Integrado de Legislação Aplicável (SILA) é a principal ferramenta de consultoria da Inteligência Ambiental. Ele é responsável pela presença da empresa santista em vários estados brasileiros. Trata-se de um software via internet, onde cada cliente acessa sua área e recebe informações estratégicas sobre a legislação que envolve o seu negócio. “Temos leis novas todos os dias no Brasil. Por meio de consultoria, levantamos as necessidades das empresas e atualizamos seus bancos de dados de forma personalizada”.

Postura – A responsabilidade ambiental no Brasil foi acontecendo aos poucos na história. Em 1981, a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6938/81) trazia novidades interessantes para a época. A situação do Vale da Morte, em Cubatão, provocou reações políticas em 1984. Já em 1988, o artigo 225 da nova Constituição brasileira passou a olhar as questões ecológicas. Depois vieram os movimentos pelo mundo, como a ISO 14001, em 1994. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) traduziu as normas dessa ISO no Brasil, mas quase ninguém seguiu suas diretrizes.

Tosta diz ter uma visão critica sobre as políticas ambientais das empresas. Para ele, a mudança de comportamento foi impulsionada pelas certificações e pelas leis. “Sempre falo isso aos clientes. O empresário não acordou um belo dia e resolveu mudar o mundo. O grande marco foi a Lei de Crimes Ambientais, em 1998. Os responsáveis podem ser presos e as empresas pagam até R$ 50 milhões em multas. Treinamentos e novos equipamentos se tornaram mais barato que as punições. Hoje, essa visão foi modificada. As empresas sabem que tratar bem o meio ambiente é um bom negócio”.



Em relação a Santos, o consultor revela preocupações pessoais. Ele tem receios de que, em nome do desenvolvimento, a Cidade penalize seu próprio povo. “Por causa do momento econômico, temos empresas e pessoas vindas de fora. Não temos espaços aqui, mas o entorno pode ser invadido como no passado. Quero que o Município e seus governantes ponderem as formas de crescimento, sem pular fases no momento das decisões”, faz o alerta.

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